A cidade de Maputo tem vindo a ser assolada por um fenômeno preocupante no que toca a recolha de lixo do nível primário (retirada do lixo nas residências, através de carinhas de mão, vulgamos “txova”) e secundário ( recolha do lixo nos contentores de lixo), com maior incidência após a quadra festiva. Porém, diferente dos anos transatdos, de acordo com as actividades rotineiras da Livaningo na monitoria de recolha dos resíduos sólidos, em 2024 registou-se uma maior incidência e prevalência de lixo na cidade de Maputo, nos contentores de lixo públicos, bem como nas residências dos munícipes, sobretudo nas zonas suburbanas, tais como os bairros da Polana Caniço, Maxaquene “C”, Maxaquene “A”, Mavalane e Chamanculo. Ora, constata-se uma situação totalmente diferente nas zonas tidas como as de “Elite ”, nomeadamente Sommersheld, Bairro Central e Coop, onde a recolha de lixo continuou sendo feita de forma sistemática, mostrando a existência de uma diferença na prestação de serviços públicos básicos, onde no contexto de escassez de recursos para a recolha de lixo, existem os que estão reservados ao munícipes das zonas de elite.
Desde o início do ano de 2024, vários órgãos de comunicação social têm vindo a reportar casos de incidência de resíduos sólidos na Cidade de Maputo, provocada pelo atraso de pagamento aos operadores privados responsáveis pela recolha de lixo do nível secundário, o que é de práxis nestas alturas do ano, contudo, diferente dos anos anteriores, o lixo nos bairros suburbanos chegou a transbordar de tal forma que, ocupou as vias de acesso (vide a figura 1), agudizando os contragimentos já existes de mobilidade, tanto para peões, quanto para automobilistas.
Com vista a colher mais ilações a respeito, a LIVANINGO entrevistou de forma aleatória munícipes de alguns bairros, com vista a compreender suas percepções em relação a abundância de lixo na via pública, de onde uma das entrevistas refere:
“Regra geral, a recolha de lixo de nível secundário é feita diariamente, ainda que de madrugada, mas não nos deixam ficar com lixo, nem em nossas casas, nem na via pública, mas desta vez, deixaram-nos aqui com lixo, e só hoje é que começaram a recolher o lixo,” referiu Julieta Matlombe, residente do bairro Polana Caniço B, há mais de 30 anos.
As mesmas ilações foram pedidas aos munícipes de outros bairros, como Maxaquene, ao que uma das entrevistas e operadora de comércio infomal disse:
“Já há 15 dias que não recolhem lixo aqui, só começaram a recolhê-lo antes de ontem, mesmo assim não conseguem terminar, porque tiram pouco a pouco. Deviam usar tractores para conseguirem tirar o lixo em maior proporção,” apontou indignada.
Quando questionada sobre o impacto dos resíduos no seu pequeno negócia, comentou “o negócio não flui como antes, porque o lixo atrai moscas e isso afasta clientes”.
Um cenário diferente se assiste nas zonas consideradas da elite (vide a figura 2), se por um lado, os bairros suburbanos partilham o espaço com resíduos sólidos, aos quais produzem um cheiro nauseabundo num raio considerável, provocando a reprodução de moscas e consequentemente, perigando a saúde de munícipes e prejudicando pequenos negócios nos bairros, sobretudo no que toca a venda de alimentos, nas zonas da Coop, Sommeshild (1 e 2), Bairro Central e os da zona de semi-elite como Malhangalene, a recolha de lixo tem ocorrido na normalidade, o que lança-nos a ocorrência de manifestações graves de desigualdades sociais, através da prestação de serviços públicos, onde o poder público através do Município da Cidade de Maputo, explicita e deliberadamente mostra uma prestação desigual de prestação de serviços, dada a desigual e a desproporcional recolha de resíduos sólidos ao longo da Cidade de Maputo.
A Livaningo condena veementemente, visto que é constitucional o tratamento igualitário aos cidadãos moçambicanos, pelo que o esforço empreendido para garantir a recolha de lixo nas zonas urbanas seja o mesmo nas zonas suburbanas.